Por Emanuel Bettencourt
Observador isento da actividade recente da comissão
Política concelhia do PS/feira, baseando a sua opinião apenas no que vai saindo
nas notícias e nas coisas que se vai ouvindo em surdina por aí.
Quero antes de iniciar este comentário, anunciar que me
proponho fazer aqui o papel de um exegeta que, para quem não sabe, é todo aquele
que pratica a exegese. Nâo sem antes relatar-vos um episódio que aconteceu à
meia dúzia de dias atrás e que passo a descrever:
Estando eu em conversa informal com um destacado dirigente
partidário da nossa praça, ouvi-lhe às páginas tantas o seguinte comentário a
propósito da actual situação política que se vive no seio do PS/Feira.
- Aquilo, dizia ele, está muito confuso. Parece que andam em
“Guerra Civil”.
- Sim, é verdade. Retorqui eu. …em “Guerra fratricida”.
O contexto desta conversa era o de hipoteticamente ser possível fazer convergir numa plataforma comum determinados pontos de vista sobre política Autárquica que não interessa no âmbito deste post, desenvolver.
Seja como for, serviu esta introdução ( pouco ortodoxa ) apenas para nos
balizarmos quanto ao teor da presente crónica. Vamos então e agora à exegese
propriamente dita.
O conteúdo das declarações feitas por Henrique Ferreira, membro
da Concelhia do PS, ao Terras da Feira, tem a particularidade de pôr em
evidência aspectos que merecem ser reflectidos.
Desde logo, a constatação factual de que o PS/Feira
vive na realidade um estado de guerrilha interna ( ou de lutas intestinas como
também “soi” dizer-se ) corporizado numa contenda verbal que envolve dois protagonistas
que são nada mais nada menos do que duas importantes e incontornáveis referências
do partido, atendendo ao percurso político de cada um deles. Eu prefiro no
entanto entender estas disputas mais como um sinal de vitalidade democrática do
Partido do que ter de admitir que na verdade este linguajar exacerbado tem o objectivo encapotado de delinear
uma espécie de cerco estratégico que vai sendo movido ora por um, ora por outro,
ora contra uns, ora contra outros. Sendo portanto visível nas entrelinhas de que com este papaguear, os litigantes poderão vir a assumir a liderança e/ou alternativamente,
poderão vir a integrar um qualquer projecto político que tenha sido recentemente
cozinhado na mesma panela autárquica que tem cozinhado outras inúmeras receitas de há 30 anos a esta parte e, claro está, cozinhado esse com o qual
necessariamente se lambuzem que é como quem diz, revejam.
Mas isso sou eu a conjecturar que sou “noviço” e ingénuo
nestas lides. Adiante.
Dando seguimento à exegetação do comentário exacerbado (?) que
foi proferido por Henrique Ferreira a propósito das declarações de Vitor
Fontes, sublinhei algumas passagens que fundamentam e estruturam este meu texto
“exegetado”.
Ao considerar as suas ( as de Vitor Fontes ) “ apreciações críticas algo excessivas, e em
alguns casos, injustamente contundentes” poderíamos até considerar que correspondem
ao tal sentimento de falta de “ lealdade
e honestidade políticas “ para com o camarada visado ( António Cardoso ) ou
até mesmo (digo eu ) e mais genericamente
para com qualquer outro camarada que estivesse no enfiamento do seu discurso.
Repare-se no entanto que estes conceitos, ( lealdade e
honestidade política ) aparecem-nos aqui distorcidos porquanto esses
são deveres que deverão estar primeiramente em consonância com a consciência de
cada um, a seguir e por motivos óbvios devem estar em linha com os eleitores e
as eleitoras na qualidade de destinatários privilegiados e só depois deverão estar ao serviço do partido. Por esta mesma
ordem.
Nesse sentido este recado/resposta endereçado a Vitor Fontes,
enferma de algumas falácias que importa aqui demonstrar.
Vejamos:
Então, como diz Henrique Ferreira, “melhor andaria Vitor Fontes se procurasse reflectir no interior do
partido sobre as questões que de forma pouco responsável ou mesmo leviana
coloca na praça pública”?
Mas…será que andaria mesmo? pergunto eu.
Na verdade não me parece. A praça pública é por excelência o palco privilegiado
da política, e por isso, esta é precisamente uma das incongruências ( como de resto e no essencial ressalta das declarações de Vitor Fontes ) que faz, dizia eu, com que o partido
se torne cada vez mais hermético e consequentemente mais distante dos cidadãos.
De facto, o que se pretende é combater esta postura epidémica que tem conduzido
o partido a um continuado e descabido "fechamento" sobre si mesmo.
Ora, contrariamente à sugestão de Henrique Ferreira que apela
à reflexão no interior do partido contrapõe Vitor Fontes dizendo que é premente
abrir o partido à sociedade em geral, criando-se com esta não só laços de
identidade mas sobretudo de maior proximidade, permitindo assim ao partido
sorver os melhores contributos que possam eventualmente advir de uma franja de
pessoas politicamente mais esclarecidas e interventivas mas que sistematicamente
esbarram na campânula translúcida do dirigismo Socialista da Feira, que se tem
tornado cada vez mais introspectivo, diria mesmo Asceta.
Neste contexto, Henrique Ferreira dá um tiro no próprio pé
quando apontando o dedo acusador a Vitor Fontes dispara (para baixo, para o pé):
“…Nem se lava as mãos como
Pilatos, assobiando para o lado enquanto a crucificação se avizinha.” Ora,
se retirarmos à frase o que ela tem de acessório resta-nos a premonição de
que se avizinha uma crucificação.
Não será este também um dos muitos motivos de gáudio dos adversários?
O reconhecimento implícito e antecipado do pecado político?
E o que dizer da questão
suscitada por Henrique Ferreira sobre “legitimidade política” ?
Segundo ele, Vítor
Fontes não reúne suficiente legitimidade política para se alcandorar dentro do
PS-Feira, ao nível e com o distanciamento que supostamente pretende. É que,
como ambos e muitos outros sabemos, Vítor Fontes ainda não liderou nenhum cargo
político no PS-Feira.
Confesso que depois deste desiderato, não terei muito mais a
dizer. É que nem sei muito bem por onde lhe pegar. Talvez acrescentar que está assim explicado de forma sucinta a verdadeira essência da
legitimação política resultando portanto daqui que, depois de toda
esta minha esforçada “exegetação” já só me resta ir para padeiro por óbvia falta
de legitimidade política.
Quem sabe.
Seja como for e para concluir, que o post já vai longo, resta-me dizer que ou o
partido, reflecte MADURAMENTE nas palavras de Vitor Fontes e as entende mais numa lógica de diagnóstico do que num ataque pueril e imberbe ou, em 2013, ano
de autárquicas, iremos estar a comer Fogaças da marca Emídio acompanhadas com um
tinto da marca Salazar na base da cruz que há-de crucificar o futuro líder do candidato do PS/Feira .
É para mim claro que aqui no concelho em termos políticos não
se pode dar “abébias” ao adversário mesmo sabendo nós que em Santa Comba, Dão.
Até Já