segunda-feira, 12 de março de 2012

Breve ensaio sobre o seguidismo.


…É bom que se perceba que os partidos em Portugal, parecem continuar a privilegiar um certo tipo de seguidismo fulanizado, em tudo semelhante ao comportamento aristocrático que era imposto pelas monarquias às cortes, durante os séculos do Absolutismo Português.   
Escudados num direito consuetudinário habilmente urdido pelos “pensadores da coisa” da época, os monarcas apareciam sempre rodeados por um séquito de gente nobre e ordinariamente bacoca que sob o manto régio da legislação, prosperava, paradoxalmente por inércia de actos. O segredo era ser “filho – de - algo”. No fundo o principal passaporte que se exigia a alguém que quisesse ter acesso à fidalguia. Á classe dominante. Primeiro por via do “Status” e depois por via do “Quo”, segundo alguns historiadores.
Num dado momento o Déspota, Esclarecido sabe-se lá por quem, percebendo as ameaças que pairavam sobre o regime viu-se na contingência de ter de suster as sistemáticas investidas de uma pequeníssima franja de burgo – plebeus, ideologicamente mais fervilhantes que entretanto fora despontando, e que através da denúncia sistemática das desigualdades e das injustiças que grassavam no Reino, acabaria por ter estado na génese da futura intifada Republicana.
A História, como está bom de ver explica-nos tudo isto de uma forma mais precisa e objectiva. O que pretendo salientar é que, de lá para cá e apesar desta aparente evolução no “modus” social, o certo é que ainda hoje continuamos a viver sob a égide do mesmo modelo com que a Monarquia estruturou os seus interesses. Diria mesmo sob a égide de um modelo monárquico – fragmentado cujos contornos sociais porventura mais discretos e sofisticados permanecem enraizados na nossa cultura.
É-nos pois relativamente fácil encontrarmos novas latitudes para a definição de rei que pode muito bem querer dizer nos dias de hoje, “… todo o indivíduo que detém um certo tipo de poder legitimado por escolha popular ”, ou por exemplo a definição de reizinho que é quando esse poder se circunscreve, por delegação do rei, à gestão de por exemplo, uma qualquer repartição de Finanças do nosso interior ostracizado, ou ainda e para finalizar esta trilogia à definição de Duque, que apesar de ser o nome do cão da minha vizinha se refere ao poder exercido por todo o subsidio – dependente num Estado de Direito e que como sabemos, na prática é nenhum.
Convém esclarecer que por exemplo o Rei dos Frangos, o Rei das Farturas, o Rei disto, o Rei daquilo, representam utilizações abusivas do mais alto título nobiliárquico que apenas se compreendem num contexto gastronómico. ( Seria de esperar que D. Duarte Pio fizesse alguma coisa em relação a isto no sentido de repor alguma da dignidade monárquica que tão enxovalhada tem sido)   
Continuando,
Na verdade, esta concepção de poder implicou a instituição sub-reptícia de uma outra forma de poder assente na noção de “pater famílias” e que ainda hoje se mantém actual não só na medida em que percorre transversalmente a sociedade portuguesa como também se assume como critério determinante na escolha dos tais “reizinhos” sempre na mesma lógica de extensão de “poder fidalgo”.
Sabe-se que, por exemplo, na mais obscura oficina de automóveis, existem certos funcionários graxistas que imitam as graçolas do patrão na expectativa (não assumida) de um aumentozito de salário. Subindo por aí acima até às cúpulas dos partidos, (em particular daqueles que tem responsabilidades governativas) , poderemos observar que do mesmo modo, certos quadros graxistas agrupados em hierarquias de influência apressam-se tal como o mecânico do nosso exemplo a expelir alegremente verborreia de circunstância sempre que por alguma razão é necessário sair à liça na defesa das virtudes do “pater”.Mal se acendem os holofotes da comunicação social, lá surgem eles todos prazenteiros a imitar, defender e fundamentar os desideratos dos seus líderes não só na expectativa ( não assumida, claro está ) da manutenção do cargo que ocupam mas também e/ou em alternativa, na expectativa de que através desse “público agrado” lhes possa advir uma qualquer nomeaçãozita geralmente atribuída por “mérito de lealdade” para ocuparem um qualquer cargo de remuneração atractiva.
( Quando acontecem estas nomeações são modo geral acompanhadas por um enfado inversamente proporcional à menoridade política do nomeado ).

Ora, o espaço de governação em Portugal é tendencialmente Socialista por ter sido este o partido que na segunda metade da década de 70, firmou com os portugueses os actuais compromissos de regime e que se encontram, de resto,  plasmados na Constituição da Républica. Houve naturalmente outros contributos fundamentais na elaboração dessa cartilha no entanto, hoje a amplitude interpretativa que é dada aos principais clausulados na parte dos direitos, faz com que esta lista de preceitos se encontre suficientemente distante dos propósitos que originalmente lhe estiveram subjacentes.
Assim, não surpreende que certos direitos como habitação, educação, saúde, justiça (…) se tenham tornado conceitos vazios porquanto passaram a ser interpretados pelos tais séquitos de gente seguidista constituída por reis, reizinhos e bobos que por via da sua acção se tem tornado um verdadeiro espartilho para a Democracia. Ou porque são politicamente iletrados, ou porque são profissionalmente incompetentes ou porque são economicamente competentes.
Sim, eu disse bem, …economicamente competentes. Senão, de que outra forma poderíamos justificar tantos Duques ?

Até Já


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