quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ramalho Eanes - texto para reflexão



Texto de Fernando Dacosta



.... quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si. O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber.
Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.
O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.
Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro.
Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados.
As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social.
Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a.
Mas pedi-la, não. Nunca!»
O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.
“A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora”.
Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta- acrescentando os outros.
“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”. O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.
Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes.
Autor: Fernando Dacosta



Nota: Já escrevi algures no Expresso um comentário sobre Ramalho Eanes, mas sinto-me na obrigação de dizer algo mais e que me foi contado por mais que uma pessoa.

Disseram-me que perante as dificuldades da Presidência teve de vender uma casa de férias na Costa de Caparica e ainda que chegou a mandar virar dois fatos, razão pela qual um empresário do Norte lhe ofereceu tecido para dois. Quando necessitava de um conselho convidava as pessoas para depois do jantar, aos quais era servido um chá por não haver verba para o jantar. O policia de guarda em vez de estar na rua de plantão ao fio e chuva mandou colocá-lo no átrio e arranjou uma cadeira para ele não estar de pé. Consta que também lhe ofereceram Ações da SLN-BPN, mas recusou.

Nota de Esclarecimento


A propósito de um "post” publicado recentemente no Blog Kouzas e Louzas, sob o título “o camarada que veio do frio”, numa divertida e bem humorada alusão ao clássico de John Le Carré “ O Espião que saiu do frio”, entendo que seria desonesto da minha parte, não vir aqui deixar uma nota de esclarecimento relativamente ao teor do mesmo e mais concretamente às referências que são feitas sobre o meu alegado envolvimento na campanha da Dra Margarida Gariso às eleições concelhias do PS Feira.
O Projeto 5000 é como se sabe (por ter sido amplamente noticiado), o principal emblema desta candidatura às eleições concelhias e nasce de uma reflexão conjunta de militantes socialistas que entenderam por bem dar, desta forma e sob a batuta experiente da candidata Margarida Gariso, uma resposta política firme e determinada a uma outra solução do tipo partidocrático que se perfilava no horizonte, corporizada pela candidatura (única) do Eng. António Cardoso e do seu respetivo séquito de apoiantes.   
Ora, como também é por todos sabido, as eleições concelhias do PS Feira tem sido pautadas ciclicamente pelo recurso a sindicatos de voto que provocam naturalmente constrangimentos ao exercício da Democracia, por via do aniquilamento do espaço de debate público que é coisa que, como vem sendo denunciado por muitos militantes, outra coisa não faz senão diluir a verdadeira essência do ideário socialista num emaranhado viscoso de compromissos e acordos de bastidores pouco claros e pouco transparentes que invariavelmente desaguam, (também ciclicamente), na mesma fossa asséptica onde desaguam os votos da nossa continuada tristeza. 

Ora, ao introduzir um conjunto de práticas inovadoras que permitem uma maior afirmação democrática dos militantes socialistas consubstanciadas num projeto amplo e aberto que é dirigido não só para todos esses militantes em particular mas para a sociedade em geral, o projeto 5000 assume-se como um desígnio que transcende o âmbito partidário e propõe-se romper decisivamente com a apatia introvertida daquele PS Feira, “quási” moribundo e circunspecto que nos tem habituado a uma oposição frágil e circunstancial, modo geral feita em função da agenda política que o executivo PSD determina, com a exceção ( e honra lhe seja feita ) da aqui candidata Margarida Gariso que só a título de exemplo e para uma melhor compreensão da sua capacidade política, ainda recentemente apresentou em reunião camarária na qualidade de vereadora, um Voto de Protesto contra o anunciado(?) encerramento da Escola de Hotelaria e Turismo da Feira.

Seja como for e porque não pretendo distanciar-me ainda mais desta nota de esclarecimento, convido-vos a acederem à página oficial da candidatura da Dra Margarida Gariso em http://www.facebook.com/projeto5000, onde poderão perceber claramente que o meu “suposto” contributo numa escala de 0 a 100, situar-se-á algures entre o 0 e o 0,5 sobretudo se comparado por exemplo com o contributo dado por todos esses militantes que desde a primeira hora se propuseram acompanhar e integrar a lista de apoiantes da candidata Margarida Gariso, nomeadamente através da apresentação de ideias e propostas objetivas que foram sendo lançadas à discussão em inúmeras reuniões preparatórias e de onde saíram conclusões que permitiram engrossar democraticamente (diga-se) este esteio político de referência a que unanimemente resolveram chamar de projeto 5000.
Assim, e só porque o post já vai longo, (e maçudo) concluo esta intervenção dizendo que não sendo militante, tive o privilégio de poder estar presente e acompanhar esta candidatura na qualidade de “elemento” da tal sociedade civil, sendo a minha “presença” coerente com o discurso da candidata Margarida Gariso onde a possibilidade de participação e intervenção que me facultaram se encontra devidamente sublinhada no seu programa político.
E agora sim finalizo, dizendo que se tivesse que fazer um balanço desta experiência política, sublinharia o fato de me ter sido permitido obter entre outras coisas, um maior e mais profundo conhecimento da dinâmica do partido socialista no concelho feirense. E convenhamos, isso é a todos os títulos enriquecedor para quem como eu, se interessa por política.
Sem mais,

domingo, 20 de maio de 2012

...Hiromi - live on MEZZO

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Unanimismo ou inanimismo ?

Começa a ser cada vez mais evidente que o atual líder do PS, António José Seguro se deixou enredar, por sua sorumbática vontade, numa espécie rara de anacronismo político. Não protesta, não se opõe e mais grave ainda recusa-se a entrar em conflito com o Governo, permitindo que este, por ausência e/ou omissão de atos reprobatórios coerentes e consistentes implemente tranquilamente “Gasparices”, daquelas que nos vão tolhendo por continuado atrofiamento a carteira e o cérebro a cada dia que passa.    
Na verdade esta postura do líder Socialista, parece evidenciar a tal estratégia matreira que Marcelo Rebelo de Sousa denunciou à uns tempos atrás e que, como certamente se recordam, deu origem a uma desproporcionada e indignada intervenção de Seguro no horário nobre dos principais canais televisivos.
Içado a líder por um processo coletivo de cegueira e um engenhoso exercício do absurdo, Seguro limita-se a cultivar a elegância, ou seja, o apagamento, esperando que o Governo caia de desgaste sem que para isso contribua com o mais pequeno gesto, denotando uma capacidade extremamente limitada para avaliar corretamente as poderosas técnicas dos partidos adversários.

Os pergaminhos do PS impõe que o seu líder não se limite apenas a atirar frases formalmente determinadas e agressivas, daquelas que levam alguns socialistas mais otimistas a acreditar que “desta vez é que é”, num exercício bacoco de oposição política, como se esta (a oposição) se circunscrevesse a um mero jogo semântico que é disputado num tabuleiro mediático de eloquência e habilidade retórica quando na verdade todos sabemos que não é, nunca foi, nem nunca será tal coisa.
O fato é que se a atual direção do PS pensa, (e deve pensar porque o diz abertamente), que este Governo tem ido muito para além do acordado no Memorando de Entendimento, nomeadamente porque impõe certas medidas (as tais “Gasparices” que referi anteriormente) que agravam ainda mais esta espiral recessiva em que nos encontramos num propósito lúcido e semi encapotado que mais não é do que a tentativa de implantação de um modelo ideológico de sociedade (para o qual diga-se, tem toda a legitimidade eleitoral para o fazer) mas do qual o partido socialista discorda, deveria então agir em conformidade e demarcar-se de cada passo mais largo que o Governo dá nesse sentido.
Na verdade, este caminho que o Governo nos tem obrigado a percorrer sob a égide da inevitabilidade e sob a batuta dos mercados já vai sendo demasiado longo e outra coisa não tem feito senão aumentar a distância em relação ao acordado em Abril de 2011 conduzindo-nos a este escabroso limiar de pobreza coletiva, a este escandaloso ponto de não retorno.

Não é isso que faz a direção do PS. Não se demarca. Arranja um sarilho interno por causa da votação do orçamento, outro por causa da disciplina de voto, outro sarilho ainda por causa do Pacto orçamental europeu, deixa que chamem socráticos aos que lhe exigem postura de oposição e por fim acaba a dizer que o Governo deve ir sozinho pelo caminho escolhido dando a entender que afinal de contas o memorando está a ser muito bem cumprido e que o partido não vai mexer nenhuma palheira que comprometa a sua execução.
Enfim, medo, ziguezagues e incoerências que não dignificam nenhum dos protagonistas que “gerem” o partido, nomeadamente Zorrinho que, vá-se lá saber porquê, dá o corpo às balas por tão fraco líder e que confirma, se dúvidas ainda houvesse, a total inépcia desta direção, que até ao momento só envergonha a família Socialista.

O Governo tem maioria absoluta. Não precisa do apoio do PS para governar exceto como peão da sua estratégia. O discurso que se institucionalizou por essas televisões afora, matraqueia-nos com a ideia de que é muito importante que o PS apoie as medidas do Governo em nome da estabilidade, alegando que Portugal é diferente deste e daquele país por ter os principais partidos do arco governativo vinculados a um programa externo. Na verdade este é o discurso conveniente para domar e anular o principal partido da oposição.
António José Seguro, engole sem se engasgar estes ansiolíticos que lhe enfiam todos os dias pela goela abaixo. E amolece. Pior, dá-os a provar a outros, que amolecem também.
Os resultados eleitorais em França e na Grécia, ensinam-nos que perante a situação internacional, fazer coro com quem nos governa é um grande erro estratégico e político.
De resto Pedro Nuno, vice-presidente demissionário da bancada parlamentar socialista disse num descontraído convívio em Castelo de Paiva que se estava a marimbar para os “credores” pretendendo com isso sugerir a reformulação dos acordos celebrados no âmbito da Troika na medida em que novas realidades conjunturais exógenas foram-nos sendo impostas num ritmo demasiado acelerado não tendo ficado previsto no acordo inicial nenhuma forma de compadecimento com as especificidades do País. Caiu o Carmo e a Trindade.
O fato é que, com um desfasamento de “meia dúzia” de dias, Mário Soares (que apesar da idade mantém uma capacidade de intervenção notável) disse do alto da sua cátedra e no essencial a mesma coisa que Pedro Nuno.
No meu modesto entendimento e só porque não estou nem legal nem ilegalmente drogado, limitar-me-ei apenas a citar neste contexto e nesta mesma linha de raciocínio o seguinte adágio popular:
   
“O pior cego é aquele que não vê a ponta de um corno.“
     
Até Já


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Dia da Mãe