quinta-feira, 10 de maio de 2012

Unanimismo ou inanimismo ?

Começa a ser cada vez mais evidente que o atual líder do PS, António José Seguro se deixou enredar, por sua sorumbática vontade, numa espécie rara de anacronismo político. Não protesta, não se opõe e mais grave ainda recusa-se a entrar em conflito com o Governo, permitindo que este, por ausência e/ou omissão de atos reprobatórios coerentes e consistentes implemente tranquilamente “Gasparices”, daquelas que nos vão tolhendo por continuado atrofiamento a carteira e o cérebro a cada dia que passa.    
Na verdade esta postura do líder Socialista, parece evidenciar a tal estratégia matreira que Marcelo Rebelo de Sousa denunciou à uns tempos atrás e que, como certamente se recordam, deu origem a uma desproporcionada e indignada intervenção de Seguro no horário nobre dos principais canais televisivos.
Içado a líder por um processo coletivo de cegueira e um engenhoso exercício do absurdo, Seguro limita-se a cultivar a elegância, ou seja, o apagamento, esperando que o Governo caia de desgaste sem que para isso contribua com o mais pequeno gesto, denotando uma capacidade extremamente limitada para avaliar corretamente as poderosas técnicas dos partidos adversários.

Os pergaminhos do PS impõe que o seu líder não se limite apenas a atirar frases formalmente determinadas e agressivas, daquelas que levam alguns socialistas mais otimistas a acreditar que “desta vez é que é”, num exercício bacoco de oposição política, como se esta (a oposição) se circunscrevesse a um mero jogo semântico que é disputado num tabuleiro mediático de eloquência e habilidade retórica quando na verdade todos sabemos que não é, nunca foi, nem nunca será tal coisa.
O fato é que se a atual direção do PS pensa, (e deve pensar porque o diz abertamente), que este Governo tem ido muito para além do acordado no Memorando de Entendimento, nomeadamente porque impõe certas medidas (as tais “Gasparices” que referi anteriormente) que agravam ainda mais esta espiral recessiva em que nos encontramos num propósito lúcido e semi encapotado que mais não é do que a tentativa de implantação de um modelo ideológico de sociedade (para o qual diga-se, tem toda a legitimidade eleitoral para o fazer) mas do qual o partido socialista discorda, deveria então agir em conformidade e demarcar-se de cada passo mais largo que o Governo dá nesse sentido.
Na verdade, este caminho que o Governo nos tem obrigado a percorrer sob a égide da inevitabilidade e sob a batuta dos mercados já vai sendo demasiado longo e outra coisa não tem feito senão aumentar a distância em relação ao acordado em Abril de 2011 conduzindo-nos a este escabroso limiar de pobreza coletiva, a este escandaloso ponto de não retorno.

Não é isso que faz a direção do PS. Não se demarca. Arranja um sarilho interno por causa da votação do orçamento, outro por causa da disciplina de voto, outro sarilho ainda por causa do Pacto orçamental europeu, deixa que chamem socráticos aos que lhe exigem postura de oposição e por fim acaba a dizer que o Governo deve ir sozinho pelo caminho escolhido dando a entender que afinal de contas o memorando está a ser muito bem cumprido e que o partido não vai mexer nenhuma palheira que comprometa a sua execução.
Enfim, medo, ziguezagues e incoerências que não dignificam nenhum dos protagonistas que “gerem” o partido, nomeadamente Zorrinho que, vá-se lá saber porquê, dá o corpo às balas por tão fraco líder e que confirma, se dúvidas ainda houvesse, a total inépcia desta direção, que até ao momento só envergonha a família Socialista.

O Governo tem maioria absoluta. Não precisa do apoio do PS para governar exceto como peão da sua estratégia. O discurso que se institucionalizou por essas televisões afora, matraqueia-nos com a ideia de que é muito importante que o PS apoie as medidas do Governo em nome da estabilidade, alegando que Portugal é diferente deste e daquele país por ter os principais partidos do arco governativo vinculados a um programa externo. Na verdade este é o discurso conveniente para domar e anular o principal partido da oposição.
António José Seguro, engole sem se engasgar estes ansiolíticos que lhe enfiam todos os dias pela goela abaixo. E amolece. Pior, dá-os a provar a outros, que amolecem também.
Os resultados eleitorais em França e na Grécia, ensinam-nos que perante a situação internacional, fazer coro com quem nos governa é um grande erro estratégico e político.
De resto Pedro Nuno, vice-presidente demissionário da bancada parlamentar socialista disse num descontraído convívio em Castelo de Paiva que se estava a marimbar para os “credores” pretendendo com isso sugerir a reformulação dos acordos celebrados no âmbito da Troika na medida em que novas realidades conjunturais exógenas foram-nos sendo impostas num ritmo demasiado acelerado não tendo ficado previsto no acordo inicial nenhuma forma de compadecimento com as especificidades do País. Caiu o Carmo e a Trindade.
O fato é que, com um desfasamento de “meia dúzia” de dias, Mário Soares (que apesar da idade mantém uma capacidade de intervenção notável) disse do alto da sua cátedra e no essencial a mesma coisa que Pedro Nuno.
No meu modesto entendimento e só porque não estou nem legal nem ilegalmente drogado, limitar-me-ei apenas a citar neste contexto e nesta mesma linha de raciocínio o seguinte adágio popular:
   
“O pior cego é aquele que não vê a ponta de um corno.“
     
Até Já


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