Começa
a ser cada vez mais evidente que o atual líder do PS, António José Seguro se
deixou enredar, por sua sorumbática vontade, numa espécie rara de anacronismo político.
Não protesta, não se opõe e mais grave ainda recusa-se a entrar em conflito com
o Governo, permitindo que este, por ausência e/ou omissão de atos reprobatórios
coerentes e consistentes implemente tranquilamente “Gasparices”, daquelas que nos
vão tolhendo por continuado atrofiamento a carteira e o cérebro a cada dia que
passa.
Na
verdade esta postura do líder Socialista, parece evidenciar a tal estratégia
matreira que Marcelo Rebelo de Sousa denunciou à uns tempos atrás e que, como
certamente se recordam, deu origem a uma desproporcionada e indignada
intervenção de Seguro no horário nobre dos principais canais televisivos.
Içado
a líder por um processo coletivo de cegueira e um engenhoso exercício do
absurdo, Seguro limita-se a cultivar a elegância, ou seja, o apagamento, esperando
que o Governo caia de desgaste sem que para isso contribua com o mais pequeno
gesto, denotando uma capacidade extremamente limitada para avaliar corretamente
as poderosas técnicas dos partidos adversários.
Os
pergaminhos do PS impõe que o seu líder não se limite apenas a atirar frases
formalmente determinadas e agressivas, daquelas que levam alguns socialistas
mais otimistas a acreditar que “desta vez é que é”, num exercício bacoco de oposição
política, como se esta (a oposição) se circunscrevesse a um mero jogo semântico
que é disputado num tabuleiro mediático de eloquência e habilidade retórica quando
na verdade todos sabemos que não é, nunca foi, nem nunca será tal coisa.
O
fato é que se a atual direção do PS pensa, (e deve pensar porque o diz
abertamente), que este Governo tem ido muito para além do acordado no Memorando
de Entendimento, nomeadamente porque impõe certas medidas (as tais “Gasparices”
que referi anteriormente) que agravam ainda mais esta espiral recessiva em que
nos encontramos num propósito lúcido e semi encapotado que mais não é do que a tentativa
de implantação de um modelo ideológico de sociedade (para o qual diga-se, tem
toda a legitimidade eleitoral para o fazer) mas do qual o partido socialista
discorda, deveria então agir em conformidade e demarcar-se de cada passo mais
largo que o Governo dá nesse sentido.
Na
verdade, este caminho que o Governo nos tem obrigado a percorrer sob a égide da
inevitabilidade e sob a batuta dos mercados já vai sendo demasiado longo e outra
coisa não tem feito senão aumentar a distância em relação ao acordado em Abril
de 2011 conduzindo-nos a este escabroso limiar de pobreza coletiva, a este escandaloso
ponto de não retorno.
Não
é isso que faz a direção do PS. Não se demarca. Arranja um sarilho interno por
causa da votação do orçamento, outro por causa da disciplina de voto, outro
sarilho ainda por causa do Pacto orçamental europeu, deixa que chamem
socráticos aos que lhe exigem postura de oposição e por fim acaba a dizer que o
Governo deve ir sozinho pelo caminho escolhido dando a entender que afinal de
contas o memorando está a ser muito bem cumprido e que o partido não vai mexer
nenhuma palheira que comprometa a sua execução.
Enfim,
medo, ziguezagues e incoerências que não dignificam nenhum dos protagonistas
que “gerem” o partido, nomeadamente Zorrinho que, vá-se lá saber porquê, dá o
corpo às balas por tão fraco líder e que confirma, se dúvidas ainda houvesse, a
total inépcia desta direção, que até ao momento só envergonha a família
Socialista.
O
Governo tem maioria absoluta. Não precisa do apoio do PS para governar exceto
como peão da sua estratégia. O discurso que se institucionalizou por essas
televisões afora, matraqueia-nos com a ideia de que é muito importante que o PS
apoie as medidas do Governo em nome da estabilidade, alegando que Portugal é
diferente deste e daquele país por ter os principais partidos do arco
governativo vinculados a um programa externo. Na verdade este é o discurso
conveniente para domar e anular o principal partido da oposição.
António
José Seguro, engole sem se engasgar estes ansiolíticos que lhe enfiam todos os
dias pela goela abaixo. E amolece. Pior, dá-os a provar a outros, que amolecem
também.
Os
resultados eleitorais em França e na Grécia, ensinam-nos que perante a situação
internacional, fazer coro com quem nos governa é um grande erro estratégico e
político.
De
resto Pedro Nuno, vice-presidente demissionário da bancada parlamentar socialista
disse num descontraído convívio em Castelo de Paiva que se estava a marimbar
para os “credores” pretendendo com isso sugerir a reformulação dos acordos
celebrados no âmbito da Troika na medida em que novas realidades conjunturais
exógenas foram-nos sendo impostas num ritmo demasiado acelerado não tendo ficado
previsto no acordo inicial nenhuma forma de compadecimento com as
especificidades do País. Caiu o Carmo e a Trindade.
O
fato é que, com um desfasamento de “meia dúzia” de dias, Mário Soares (que
apesar da idade mantém uma capacidade de intervenção notável) disse do alto da
sua cátedra e no essencial a mesma coisa que Pedro Nuno.
No
meu modesto entendimento e só porque não estou nem legal nem ilegalmente
drogado, limitar-me-ei apenas a citar neste contexto e nesta mesma linha de
raciocínio o seguinte adágio popular:
“O
pior cego é aquele que não vê a ponta de um corno.“
Até
Já
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