terça-feira, 6 de março de 2012


Em Abril deste ano,  o partido Socialista da Feira vai escolher o seu líder concelhio. Na verdade esta indefinição na liderança futura do núcleo concelhio tem condicionado a possibilidade do partido poder implementar em tempo útil uma estratégia eleitoral adequada às realidades do concelho. 

Por outro lado, não me parece que no quadro actual, a prossecução dessa estratégia ( existente e/ou quando existir ) seja suficientemente capaz de poder afirmar o Partido como uma alternativa forte e credível com vista às próximas eleições Autárquicas de 2013.

É certo que qualquer que seja o rumo político que venha a ser traçado, (por estes ou por novos dirigentes), deverá ter em linha de conta não só o correcto diagnóstico dos principais problemas que assolam o concelho, mas sobretudo deverá apresentar propostas de resolução que sejam exequíveis e que estejam devidamente calendarizadas.
Estou certo de que La Palisse não diria melhor se considerarmos que no essencial isto é o que todos os partidos fazem, submetendo a sufrágio e ao longo dos sucessivos actos eleitorais, cada uma das suas propostas.

Há no entanto uma fasquia de exigência política cada vez mais elevada e que não se compadece com lapalissadas i.é., já não é suficiente para a afirmação de um projecto de governação autárquica o recurso a este formato que consiste em estruturar um programa político a partir do binómio problema(s) vs solução(ões).   

Importa pois salientar neste ponto, a necessidade de introduzir e fazer coexistir com o aludido modelo, uma linha condutora que observe com particular atenção os pequenos detalhes. Aqueles que na maior parte das vezes nos parecem insignificantes mas que na prática podem fazer toda a diferença. Desde logo, a escolha “atempada” do líder afigura-se fundamental até mesmo pelo imperativo de este ter de executar “trabalho de campo” que é coisa que de resto e no caso o PS/Feira já deveria estar em curso.

Aceitamos com razoabilidade que, por exemplo, o(a) futuro(a) candidato(a) já deveria estar profundamente familiarizado com a realidade de todas as forças vivas do concelho sejam elas de cariz associativo, cultural, ou qualquer outro, criando-se com estes agentes condições empáticas tendentes à difusão do projecto político e influenciando (eventualmente) por essa via, uma determinada tendência de voto.      

Não repugna pois admitir que a este respeito o PSD tenha anos de avanço em relação ao PS. Consequência directa da confortável maioria que lhes tem assistido na governação da Câmara e que por esse facto lhes tem permitido estar informalmente, (formalmente não estão), em contínua campanha eleitoral. Veja-se a título de exemplo os reforços orçamentais propostos pela Câmara (PSD) para a freguesia de Romariz (PSD) apenas para citar um de entre muitos episódios recentes que corroboram o que atrás foi referido.

Nesse sentido, a elaboração de um programa assertivo, consistente e exequível que seja capaz de mobilizar a população feirense implica necessariamente a existência de uma personalidade política que se reveja nesse mesmo programa e que o saiba “difundir” em tempo útil junto da população. Assim sendo, trata-se pois de saber quem é que no PS/Feira estará mais bem posicionado para conseguir capitalizar «a simpatia» dos diferentes agentes que constituem todo o tecido económico e social do concelho (eleitores) e sendo implicitamente, capaz de saber converter essa simpatia em votos. No fundo é disso que se trata.

Ora, António Cardoso tem surgido em várias ocasiões como um dos nomes prováveis para assumir em nome do PS esse desígnio. Também Strecht Monteiro ( a avaliar pelas “farpas” que vai lançando para dentro do partido ), tem demonstrado disponibilidade para se poder perfilar como candidato.
 Não está aqui em causa a “estatura” política quer de um quer de outro mas em boa verdade, não se pode deixar de dizer que ambos já tiveram a “sua” oportunidade de liderar projectos políticos, tendo nessas ocasiões obtido os “amargos” resultados que são do conhecimento de todos nós. Não se pretende com esta observação retirar o mérito a ninguém. Estou certo de que em cada um desses combates políticos, quer um, quer outro, deram o melhor de si mesmos. O facto indesmentível é que, e lamentavelmente para o partido, não se pode afirmar com total convicção que esses foram projectos ganhadores. 
Perguntemo-nos pois e em consciência, porque é que agora haveria de ser diferente?

Na realidade, sou um bocadinho avesso aos “eternos” candidatos, sobretudo quando nas entrelinhas isso poderá querer significar, (ainda que remotamente), “perpétuas” derrotas.
Talvez seja bom refletir nas palavras de Vitor Fontes, destacado dirigente do PS que a este respeito coloca o dedo na ferida e nos diz em entrevista dada ao jornal Terras da Feira o seguinte:


"Apesar de alguns arrufos políticos circunstanciais, o PS/Feira vive ainda num estado de letargia. 
O partido tem vivido e, em grande medida, ainda vive exclusivamente virado para si próprio. 
É, na perspectiva do Concelho, tido e reconhecido como um partido fechado a meia dúzia de pessoas. 
O partido e as suas secções, salvo raras e honrosas excepções, não desenvolvem qualquer tipo de trabalho político útil e válido. Na prática, mais não constituem, que não meros sindicatos de voto. Neste sentido temos um partido pouco atractivo, porque adiado e alheado dos reais problemas do Concelho. 
A imagem que o partido transmite para o exterior é a de um partido hesitante, inconstante, incoerente, que não sabe verdadeiramente o que quer para o Concelho. 
Assim, o actual problema do partido é de liderança e também de aparelho. Assenta num modelo organizativo fechado sobre si próprio. Os mesmos são sempre os mesmos. A maioria das pessoas que quer apoiar e colaborar com o PS, uma vez mais, não encontra modo de nele intervir. 
Na maioria das sedes, o debate democrático é escasso ou inexistente. As estruturas partidárias gastam demasiado tempo a discutir pessoas e lugares, em vez de debater ideias e propostas. Quem se atreve a discordar é muitas vezes maltratado. 
A imagem que damos é, na maior parte dos casos, a de um partido que só se mobiliza para elaborar listas ou para travar ferozes combates pelo poder interno. Um partido assim, se não arrepiar caminho, afasta-se cada vez mais do seu eleitorado tradicional e não conquista novo eleitorado. Para tanto, temos de ter a coragem política de abrir o partido à sociedade, em particular aos seus sectores mais dinâmicos. Só assim o partido se credibilizará e crescerá. 
De uma vez por todas, o PS/Feira não pode continuar a ser prisioneiro da estratégia pessoal dos seus líderes - “petit chefs” - que o tem impedido de crescer e abrir-se à sociedade, em particular aos seus sectores intelectualmente mais dinâmicos, com o objectivo de não serem postos em causa, não terem de competir politicamente, não terem de enfrentar o debate de ideias que não são capazes de travar e impedirem o surgimento de alternativas internas nas lideranças, essenciais para que o partido apresente alternativas rejuvenescidas e vencedoras nas várias disputas eleitorais. 

Quem fala assim….


Post Scriptum - No meu próximo Post irei explicar porque razão Margarida Gariso é no meu entender o nome mais indicado para liderar a concelhia do PS Feira.

4 comentários:

  1. Li com atenção o seu post.
    Embora "todos" entendamos as referidas generalidades como "lapalissadas", o que me parece um facto é que o meu Caro Bettencourt traçou, do meu ponto de vista, um diagnóstico correcto do estado das coisas nesta ("arrisco a adjectivação") quase "agremiação" partidária.
    Acrescentaria, se me permite, e em off (não me quero meter nestas coisas...), que o PS, na Feira, como perto de nós, é bem capaz de ser uma "organização" (?) ... sem memória.
    Vejamos o paralelismo do que seria da humanidade sem história...
    Quanto ao post scriptum, não me pronuncio. Diria apenas que, embora sendo uma boa política e um(a) excelente quadro que importa potenciar, penso que se trata da negação da tão boa reflexão/conclusão com que nos brindou.
    PS

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    1. Quero antes de mais começar por lhe agradecer o comentário.
      Na verdade, e no seguimento do seu raciocínio permita-me dizer que subscrevo a ideia de "organização" que é extensível não só ao PS/Feira, mas de modo transversal e mais genericamente a todos os partidos políticos que integram o nosso actual espectro político.
      O problema é que estas "organizações" acabam invariavelmente por se distanciar dos seus objectivos, i.é., da missão para a qual foram criadas.E nesse sentido a memória torna-se de facto um empecilho na medida em que, quando recorrida, expõe de forma evidente determinadas fragilidades que são contrárias a certos interesses que se foram instalando ao longo deste curto período de vida da Democracia Portuguesa.Mas, como disse anteriormente é um fenómeno transversal.
      Este egocentrismo latente em alguns personagens com responsabilidades político-partidárias, acaba invariavelmente por descaracterizar a verdadeira essência da actividade política que consiste em última análise na prestação abnegada (digo eu) do serviço público para o qual foram eleitos.
      Neste contexto os Partidos ( uns mais do que outros e neste caso o PS/ Feira pode ser um bom exemplo) acabaram por se transformar em grandes "organizações" de índole predominantemente empresarial, onde a tal memória que referiu no seu comentário se incompatibiliza obrigatoriamente com a hierarquização desses interesses e de quem os defende como de resto acontece com as empresas.
      Acrescento para finalizar, que pela lucidez evidenciada no seu comentário, tenho pena que "não se meta" nestas coisas.
      Quem sabe talvez o ajude a mudar de ideias.

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    2. Ilustre Bettencourt,
      Quero reconhecer, antes de mais, a forma (brilhantemente) objectiva e de muito agradável leitura da sua escrita (e de pensamento). Parabéns. Tento seguir as suas reflexões nos foruns conhecidos das "redes locais".
      Permita-me pois o "abuso" de lhe sugerir que continue com essas reflexões (não quero abusar da sorte, mas a escrita com nível é outra coisa - não se deixe, por isso, levar pelos post's "engraçadinhos").

      Mas voltando ao tema do presente post, digo-lhe apenas que, é por estas e muitas outras coisas, nomeadamente o facto de possuir-mos tão nobre característica de "pensar pela própria cabeça" que, brevemente constatará, o melhor é mesmo a resignação ao tal "não me quero meter nestas coisas".
      Brevemente perceberá que, com estes actuais personagens nas "lides", quem tem "algum" poder de raciocínio, não tem um acesso facilitado à referida "organização". A não ser que seja apenas para servir de porta-estandarte, numa qualquer eleição que por aí surja.
      O campo está minado por muitos que querem chegar "à frente", muitos que só vivem politicamente da menoridade do seu próprio pensamento, muitos dos que se julgam os únicos baluartes da organização, por muitos daqueles que não deixam que quem pensa possa "crescer". Foram esses, os eternos "velhos do restelo" (não necessáriamente na idade) que fizeram com que muitos de "nós" tenham decidido "não nos meter nestas coisas". Os tais que não têm memória.
      No meu caso, posso garantir que tenho sido muito mais reconhecido (pessoal e profissionalmente) no "campo do inimigo". Nunca reneguei, contudo, as minhas origens e orientação política. Mas tento continuar a pensar. Sempre. Talvez estas questões tenham contribuido, ao longo dos últimos 30 anos, para os desfechos eleitorais conhecidos.
      Enquanto os "eternos" quiserem continuar "eternos e únicos", tenho a impressão que "a coisa não vai lá". A intervenção de alguns tem sido má demais para ser verdade. Mas querem continuar. De derrota em derrota. Porque afinal de contas julgarão "...eu é que sou o presidente.... da coisa". Esquecem-se contudo de uma coisa muito importante: o facto de estarem COMPLETAMENTE desfazados da realidade local e autarquica.
      Mas, oxalá eu esteja enganado. E oxalá o meu caro interlocutor tenha uma sote diferente...
      Aceite os meus cumprimentos.
      PS

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  2. Caro PS,
    Transparece no seu discurso um profundo descontentamento com a forma de estar de alguns dos nossos dirigentes políticos. Os que tem responsabilidades directivas. Deixe-me dizer-lhe que não me surpreende mesmo nada até porque subscrevo na íntegra as suas reflexões.
    Por isso entendo que é importante denunciar esta continuada falácia que é permitir a presunção de que aos auto-intitulados baluartes do partido deveremos por nexo de causalidade intrínseca, fazer corresponder o acesso a um determinado cargo de maior responsabilidade partidária (consequentemente de maior visibilidade pública).
    Estará de acordo comigo se lhe disser que neste contexto, a resignação nunca poderá ser opção. De resto, tenho para mim que é precisamente junto dos resignados que a derrota se inspira, muito por culpa da inércia daqueles que se poderiam perfilar como potencialmente vencedores.
    Julgo pois que será apenas no palco da intervenção política que poderemos ajudar a corrigir os termos desta equação, fazendo emergir por via do argumento as incongruências que, como muito bem referiu, minam o partido. Assim o queiramos nós.
    Finalizo este comentário, dizendo-lhe que no meu ponto de vista, a utilidade dos porta - estandartes não deveria estar apenas circunscrita à exibição da bandeira. Poderia também servir para de quando em vez, ajudar a meter ordem na casa, correndo tudo à "bordoada". Mesmo que fosse só naqueles momentos em que nos apetece suspender temporariamente a Democracia.
    Digo eu.

    Abraço

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